quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quem é o artesão moderno?

«Cores fortes. Formas divertidas e doces. Estas são algumas das qualidades que nos atraem para a banca que Vânia tem na Praça da Alegria. A jovem de vinte e dois anos gosta de ver o sorriso que as pessoas esboçam quando olham para as suas peças. Gosta de adocicar quem passa, até porque “estes doces não fazem mal nenhum”.
Cinco anos depois do início desta aventura, Vânia participa nas feiras de artesanato sobretudo como um hobbie: “tenho um outro trabalho e por isso não é pelo dinheiro que cá venho”. “Gosto do convívio, da música e de ir conhecendo melhor o público”, conta-nos.
Esta verdadeira auto-didacta trabalha em massa de modelar: o fimo. Fanática por doces, inspira-se naquilo que gostaria de usar. “Aprendi tudo sozinha e vem tudo da minha cabeça; vou experimentando muito, misturando as coisas, dando as formas”. Mas são as pequenas peças que a fascinam. Quanto mais pormenores, melhor. Maior o gozo. Gosta que o público reconheça o árduo trabalho que está por trás. No entanto, “ainda é difícil cativar as pessoas”.
“Há um bocadinho de tudo”. Há quem passe, admire, mas não compre. Há quem passe, desvalorize o trabalho e continue o seu caminho. Há quem passe, que fique para dois dedos de conversa, que conheça e que compre. O preço nunca pode ser muito alto.
Para além das feiras, as peças de Vânia estão em duas lojas de Setúbal. Mas a internet dá uma grande ajuda na divulgação. Através do myspace, estabelecem-se contactos e podem até fazer-se encomendas.
“O meu sonho é abrir uma loja”. Uma loja com espaço para o artesanato e para os bolos caseiros. “Mas aqui em Portugal é um pouco difícil explorar este ramo”, desabafa. O futuro é cheio de ideias que, pouco a pouco e com muita imaginação, vão sendo alcançadas.
“Neste momento, vou fazendo estas peças e vou continuar a vir às feiras. Não gostava de parar já”.



Ao passarmos pela banca da Gabriela, nunca a vemos parada. Chama-nos a atenção o trabalho constante. A curiosidade é mais forte. Queremos saber o que vai sair daquelas habilidosas mãos. “Se eu pudesse ficar em casa a fazer as peças e tivesse alguém que viesse às feiras, era óptimo; ficava em casa a trabalhar… nem considero aquela história do trabalho ser penoso, porque eu adoro”.
Com vinte e sete anos, Gabriela estuda Joalharia, no Centro de Arte & Comunicação Visual. Ao mesmo tempo, ocupa os seus dias a preparar a tese do mestrado em Design de Joalharia. Licenciada em Estudos Portugueses, chegou a estar um ano e meio a fazer um curso na escola Contacto Directo. “Estes cursos influenciam muito o que faço, porque vou aprendendo novas técnicas e vou trabalhando com novos materiais, acabando assim por conseguir transmitir isso nas minhas peças”.
O único rendimento que tem ganha-o com as peças que vende nestas feiras. “Tenho também uns pais amorosos, que me ajudam muito”, confessa. A crise é um factor muito preocupante para quem se dedica a este estilo de vida: “as pessoas cortam logo nas vaidades, ficam com os bens essenciais e isto é posto de parte.”
Gabriela trabalha com diversos materiais: dos arames à prata, do cabedal ao fimo. Gosta de se sentar e ir deixando as peças fluírem. Estes trabalhos estão também em algumas lojas espalhadas por todo o país. “As lojas normalmente o que fazem é comprar umas cinquenta peças e depois vão vendendo; compram também de outros artesãos e, normalmente quando o stock acaba, vão à procura de outras pessoas para terem sempre novidades”.
Grande parte da divulgação é feita pelos amigos, que vão espalhando a palavra. “Tenho também um blog”, onde exponho as peças e vou contando as novidades”.
“De momento, não é possível viver só disto”. Gabriela, no entanto, vai fazendo figas e torcendo para que a actual situação melhor. “Adorava continuar e fazer assim a minha vida”.



Roland Altmann é alemão e mora em Portugal há quase dez anos. O seu trabalho destaca-se de todos os outros pela originalidade. Pelo brilho das peças. Pelo trabalho preciso.
Foi em Berlim, durante a década de oitenta, que começou a procurar âmbar. Encontrava o material em forma de resina fossilizada, em escavações de areia ou antigas zonas de construção. Começou a trabalhar com ferramentas rudimentares e foi aperfeiçoando a técnica ao longo do tempo. “Na Alemanha, cheguei a fazer um curso de joalharia mas de resto sou auto-didacta”. Contudo, afirma que este curso não influenciou muito o seu trabalho porque agora dedica-se mais à lapidação. “Gosto muito de descobrir uma gema que está dentro de uma pedra em bruto; é sempre um desafio técnico e também criativo”.
Com quarenta e seis anos, dedica-se exclusivamente ao artesanato. Roland tem na zona da Graça um ateliê/galeria onde, juntamente com a mulher, produz as peças e as expõe. “Há sempre altos e baixos, mas vamos seguindo. O importante é gostar daquilo que fazemos, gostarmos do nosso trabalho”.
Para além da galeria, Roland participa em diversas feiras de artesanato. “Nas feiras é bom porque estou com mais pessoas; também gosto muito de estar na galeria, porque posso mostrar mais coisas e até faze-las na hora”. Podemos também encontrar as peças no site de Roland.
O futuro passa por continuar por Portugal. Apesar de, na sua opinião, Portugal ainda se estar a desenvolver no que toca ao mercado do artesanato urbano.


Ercilio, sessenta e dois anos, é reformado. Encontra no artesanato uma forma de ocupar os tempos livres e, ao mesmo tempo, ter um complemento à reforma: “Gosto daquilo que faço e ainda me pagam”. Tem a vantagem de, se quiser, trabalhar doze horas seguidas e depois estar três dias sem produzir. “Se só dependesse do dinheiro que aqui faço, não estava aqui”, afirma.
Para Ercilio, tudo começou com a ideia de refazer a imagem de Santo António: “eu coleccionava imagens do Santo António há muito tempo e, sem copiar, fui criando, fui aperfeiçoando”. Depois, surgiu a ideia da imagem de Fernando Pessoa. E, assim, as peças foram surgindo.
Trabalha, sobretudo, com materiais recicláveis. Aproveita também arames e alumínios, pasta de modelar e gesso. Os últimos retoques são dados com tintas aquosas, para que as limpezas sejam mais fáceis. Para todas as feiras, faz questão de levar a base das peças, para que todos possam ver de onde nasceram. “Não me importo de dizer como se faz porque ninguém consegue”.
Conta-nos que estas feiras começam a ser mais selectivas com as pessoas que vêm expor os seus trabalhos. É necessário passar por um processo de selecção e, às vezes, uma entrevista pessoal. “Tenho a vantagem de as minhas peças serem muito originais e, por isso, não ser recusado nas feiras”. Acredita que esta triagem é boa e necessária, “porque não queremos as feiras transformadas numa feira da ladra; a ideia não é bem essa”.
Ercilio é um auto-didacta e faz a divulgação das peças através de um blog e, sobretudo, nestas feiras por Lisboa e Cascais. Já teve convites para estar em diversas lojas, “mas não é para aí que estou virado”. Tenta manter as peças a um preço baixo pois reconhece que “as pessoas não têm dinheiro para comprar”. “Eu não considero isto arte, considero artesanato e portanto tem de ser artesanato; quem quiser ser artista, tem muita dificuldade neste momento; é a crise efectivamente!”
As novas tecnologias são também uma forma de todos os colegas comunicarem e irem trocando experiências. As constantes mensagens no Facebook confirmam este crescimento do número de pessoas que se dedica ao artesanato. “Há centenas de pessoas: pessoas que ficaram sem trabalho e que começaram a fazer umas coisas, pessoas que precisam dum complemento ao ordenado e pessoas que têm um certo jeitinho e vêm para as feiras”.
Ercilio quer continuar a participar nestas feiras de artesanato. Quer estar à vontade naquilo que produz. “Até aos 101 anos, se for possível”, brinca. »








(reportagem feita no âmbito de ateliê de jornalismo digital)

5 comentários:

  1. Devias ter dividido este post em vários posts; cada um com uma história. Como está, a mancha gráfica é muito pesada e pode afastar os leitores.

    Falta a melhor parte que eram as fotos:).

    Quanto às histórias: os doces que a Vânia faz parecem ser muito apetitosos; fazem-me lembrar aquela loja na Baixa que faz chupa-chupas ao vivo, acho que é Papabubble.

    Quanto ao senhor que lapida jóias, não gosto de quem faz isso. Os minerais são muito mais bonitos em bruto (smile ofendido)!!! Mas é de louvar o trabalho que vale muito dinheiro. Invejo-lhe o facto de ter tido a possibilidade de procurar âmbar.

    O senhor que faz Fernandos Pessoa deve ser uma pessoa muito muito interessante. Eu nunca me lembraria de tal coisa e, como deu para ver nas tuas fotos, é um trabalho brutal.

    Parabéns pelos artigos :D.

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  2. Ah, eu gostei tanto das tuas fotos, Sofia! Devias ter posto mais aqui no teu blog :)
    Existem pessoas cheias de talento, realmente... Gosto especialmente dos Fernados Pessoa.
    E, para não variar muito, gosto muito do texto. Ai do Zezinho se não te dá boa nota :P

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  3. Por momentos pensei que te tinhas tornado uma craque na linguagem java, css e html, mas parece é que o blogger tem novas ferramentas:P

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  4. wow, isto está muito diferente desde a última vez que aqui vim :p

    beijinho,
    rita,

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  5. Amei esta Sophi :)
    Gostei muitoo do texto...principalmente porqe ja me interessa esse assunto !
    Continua minha Sophi qe vais num optimo caminho!
    Adoro'te, Sofiaa

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